Via da Verdade

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domingo, maio 11, 2003
 
“A Ordem Natural das Coisas” de António Lobo Antunes

A meu ver, ordenadas as coisas (ou antes, a maneira como vemos as coisas), estas podem resumir-se a 4 categorias básicas: Amor/Ódio; Alegria/Tristeza.
É com estas quatro categorias básicas que se debatem as personagens lobantunianas. Ou seja, debatem-se, não com uma “ordem natural das coisas” em si, mas antes com uma “desordem humana dos sentimentos”, que é a causa de todos os seus sofrimentos, e que acenta na constatação de que as coisas estão aí, indiferentes a nós e às nossas dores, e como tal – e pela lógica busheana de que quem não está com os EUA está contra os EUA – em confronto permanente connosco.
A relação que mantemos com as coisas é então uma relação dialéctica em que não é possível uma superação positiva.
Como as personagens deste romance, vivemos à superfície das coisas, nunca descendo muito fundo, porque as coisas não têm profundidade alguma (a profundidade está em quem atribui profundidade às coisas), nem nunca voando muito alto, pois também nós somos coisas.
Como as personagens deste romance, voamos debaixo da terra, nunca procurando nada de especial, nem nunca conseguindo nada de especial. Vivemos sofremos e acabamos.
“A Ordem Natural das Coisas” será então esta constatação de que estamos sozinhos, lançados num mundo que nos é hostil e que somos obrigados a atravessar devagar, tão devagar como se o tempo todo fosse um único instante muito comprido, em que a vida é “peso, resignação e mágoa”, e a morte é simplesmente nada, e como tal não consola ninguém.

PS - a escrita do Lobo Antunes cada vez mais me parece um novelo do qual cada vez vai ser mais dificil sair.
Tomaz