Via da Verdade

Blog Português de Filosofia & Literatura mail: tiomas@yahoo.com

This page is powered by Blogger. Isn't yours?
quinta-feira, junho 12, 2003
 
Ficha de Leitura de “Performative Utterances” [Enunciações Performativas] de John L..Austin

Neste artigo Austin chama atenção para aquilo que chamamos de enunciações performativas, que são actos linguísticos onde é operado pelo sujeito um acto social convencional, mas onde nada é afirmado nem descrito.

Contra as Teorias Verificacionalistas (1) um filósofo wittgensteiniano considera que uma convenção social pode dar significado a uma qualquer expressão, sem que estas tenham nada a ver com a verificação ou com a verdade.

Austin começou por distinguir as enunciações performativas das enunciações descritivas (que referem situações, descrevem factos, etc...)
Ao exprimir-mos uma enunciação performativa estamos a desempenhar um acto social, estamos a fazer algo, e não apenas a dizer algo. Ex: Eu baptizo; Eu aposto; Eu prometo; etc. Deste tipo de enunciações não podemos dizer que são verdadeiras ou falsas.

Os actos de fala (ou actos linguísticos, discursivos...), como qualquer apologista de uma teoria do uso (2) nos diria, são actos convencionais. Ou seja, estão enraizados em práticas, costumes, tradições, etc.
Os actos de fala são regidos por muitos tipos de regras, normalmente implícitas no comportamento social.

Para uma enunciação ser performativa as palavras têm que ser ditas num determinado contexto. - J. Austin

Uma única expressão pode ter aspectos performativos e descritivos. A força ilocutória está no contexto de uma expressão e não apenas em alguma parte desta. Como tal, em diferentes contextos, a mesma frase pode ter diferentes forças ilocutórias. Ex: Vou-me embora! – é uma ameaça ou uma promessa?
A descrição de Austin entre frases performativas e frases descritivas evoluiu para uma distinção entre força e conteúdo enquanto aspectos de uma expressão.

Não há uma regra para todas as enunciações performativas.(...)
Afirmar ou descrever algo é tanto um acto como avisar ou ordenar (os actos performativos que temos vindo a falar).
- J. Austin

Diferentes forças ilocutórias dependem das intenções, objectivos, autoridade, etc., do falante - actos ilocutórios - e do ouvinte - actos perlocutórios (3).

Existem regras que regulam estes actos de fala, mas o valor de verdade de uma expressão não é o mais importante. A falsidade é apenas um de entre muitos outros motivos pelo qual uma expressão pode ser infeliz.

As Teorias Verificacionalistas do Significado identificam o significado de uma frase com o seu conteúdo proposicional. Mas não será a força ilocutória também um significado?
Alguns fenómenos semânticos apenas podem ser explicados através do recurso a factores ilocutórios.


(1) As Teorias Verificacionalistas dizem que o significado de uma expressão é a sua condição de verificacionalidade, ou seja, o conjunto de experiências que demonstram que essa expressão é verdadeira.

(2) Segundo uma Teoria do Uso o significado não é um objecto abstracto, mas antes o papel desempenhado por uma expressão no comportamento social humano. Como tal, saber o significado de uma expressão é simplesmente saber o uso correcto dessa expressão num determinado contexto.

(3) Acto Perlocutório - O acto linguístico praticado quando, ao proferir uma frase gramatical e com significado com uma certa força ilocutória associada, o falante de uma língua produz, além disso, efeitos específicos na audiência. - Enc.Term.Log.-Fil.