Via da Verdade

Blog Português de Filosofia & Literatura mail: tiomas@yahoo.com

This page is powered by Blogger. Isn't yours?
sábado, junho 14, 2003
 
Ficha de Leitura de Philosophy of Language de W.Lycan

Cap. 8 – Verificacionismo; Dois desafios de Quine à
Filosofia da Linguagem dos Positivistas


Introdução

Segundo a Teoria Verificacionista, o significado de
uma expressão é a sua condição de verificacionalidade,
ou seja, o conjunto de experiências que demonstram que
essa expressão é verdadeira. Uma frase não verificável
pela experiência não tem sentido.

Objecções à Teoria Verificacionista do significado:
Duhem e Quine dizem que as frases, por si só, não têm
"condições de verificacionalidade".
Para Quine as frases não têm significado individual;
não existe algo como o significado de uma frase.
Ainda segundo Quine, não existem frases verdadeiras
por definição, ou analíticas.


A Teoria Verificacionista

– A Teoria Verificacionista como motor do positivismo
lógico

Um slogan positivista diz que uma expressão
linguística com significado deve influenciar alguma
coisa em concreto. Se não compreendermos uma
expressão, como poderemos afirmar que esta tem
sentido?

Os positivistas suspeitavam que muitas das obras dos
“grande filósofos mortos” não tinham qualquer sentido
e, muito menos, eram verdadeiras.
Uma frase era tida como “com sentido” apenas quando
havia a possibilidade de, através da experiência, se
demonstrar que essa frase era verdadeira. Os
positivistas chamavam a esta condição, “condição de
verificacionalidade”.

Ou seja, a Teoria Verificacionista identifica cada
significado de uma frase com a condição de
verificacionalidade dessa frase.
Uma frase que não passe a prova de fogo da
experiência, mesmo que gramaticalmente correcta, é
“sem sentido”.

Ainda segundo os positivistas, as frases analíticas
são, por definição, verdadeiras. Ou seja, não
necessitam de verificação empírica para terem
significado. O seu valor de verdade é garantido pelo
conjunto dos significados das palavras que as compõem.
Assim são as frases analíticas.

- Algumas objecções à Teoria Verificacionista

Segundo Wittgenstein, a Teoria Verificacionista era
apenas mais uma tentativa de se atingir a essência da
linguagem, além disso, esta teoria aplica-se apenas à
linguagem descritiva dos factos, que é apenas um dos
vários tipos de linguagens - fazer perguntas, dizer
poesia, dar ordens, entre outras.
É difícil perceber como é que a Teoria
Verificacionista poderá lidar com todos estes usos de
linguagem.
Uma resposta possível seria a de que os positivistas
se interessam apenas pelo sentido cognitivo da
linguagem. Mas neste caso o significado linguístico
fica sem uma teoria geral.

Na esteira de Duhem, Quine diz-nos que as frases, por
si só, não têm “condições de verificacionalidade.”
Esta só surge face a uma teia de crenças prévias. Ou
seja, mesmo na nossa linguagem quotidiana, aquilo que
pressupomos que seja uma clara “condição de
verificacionalidade” de certa afirmação empírica,
depende de uma grande teia de assunções auxiliares
(contexto, crenças, aparelho sensitivo, ambiente,
predisposições, etc.)
Uma “condição de verificacionalidade” tem de confiar
em todas estas assunções, e qualquer uma delas pode
falhar. Como tal, as frases não têm “condições de
verificacionalidade” intrínsecas.


Dois desafios de Quine à Filosofia da Linguagem dos
Positivistas


– Recusa da distinção analítico/sintético

Quine atacou a ideia de que algumas frases são
verdadeiras apenas em virtude daquilo que significam e
não devido a qualquer contribuição do mundo
extralinguístico.
Como os positivistas, Quine acredita que o significado
linguístico tem de ter um suporte epistémico, uma
âncora com a realidade, porém acredita que se o
significado linguístico é alguma coisa é uma função
desse suporte empírico.
No entanto – e aqui surge a proposta holista de Quine,
que o afasta dos positivistas – Quine afirma que o
significado das frases não se sustenta nas próprias
frases, mas num sistema holístico que é o suporte das
nossas crenças.
É neste complexo sistema de relações que se encontra o
sentido de uma frase. Para Quine, as frases não se
relacionam directamente com as coisas, mas
relacionam-se entre si dentro desta complexa teia de
crenças.

Ainda segundo Quine, nenhuma crença ou frase e nem
mesmo uma verdade lógica, é imune à revisão empírica
(uma lei lógica básica, como a regra do 3º excluído,
pode ser refutada por fenómenos quânticos). Uma frase
analítica seria imune a esta revisão, logo não existem
frases analíticas.
Algumas consequências da negação das frases analíticas
é a impossibilidade (a meu ver absurda) da existência
de frases sinónimas.

- A Tese da Indeterminação da Tradução

Para além de não existirem frases analíticas, Quine
diz agora que não existe “o significado”.
As frases não têm significado por si próprias. Se uma
frase tivesse significado, esse significado seria uma
“condição de verificacionalidade”. Como tal, as frases
não têm significado. – nota: aqui talvez seja aconselhável
acentuar que as frases não têm significado por si só, mas apenas
“ganham” esse significado num complexo sistema de
crenças. Ou seja, as frases não têm sentido
(meaningfull) mas podem fazer sentido (mean).
É neste sentido que a “tese da inescrutabilidade da
tradução” diz que uma tradução de uma língua para
outra nunca pode ser perfeita, pois cada frase não
significa por si própria, ou seja, não tem nenhuma
“condição de verificacionalidade”, e cada língua tem
“atrás de si” toda uma rede de conhecimentos, crenças,
etc., impossível de reproduzir noutra língua. Porém se
assim não fosse, se uma frase tivesse significado por
si só, uma tradução perfeita seria possível, uma que
conservasse o sentido real da frase. Como tal, diz-nos
Quine, as frases não têm significado. – nota: vimos
que para Quine não existe algo como "o significado" das
frases porque para haver esse significado as frases
teriam que se reportar a algum acontecimento concreto
no mundo extralinguístico (isto segundo a Teoria
Verificacionista, que Quine parece, neste ponto
essencial, aceitar). Isso, porém, não acontece, pois
as palavras e as frases vão buscar o seu significado a
um conjunto de crenças, a um sistema holístico. No
entanto resta a dúvida de porque é que Quine não
deixou cair o requisito verificacionista de uma
“condição de verificacionalidade” para a concessão de
significado.

Resumo

A Teoria Verificacionista diz que uma frase para ter
significado tem que ser verdadeira, ou seja, tem que
ser verificável empiricamente.

Duhem e Quine argumentaram que as frase não têm
“condições de verificacionalidade” próprias. Quine vai
mais longe e afirma que nenhuma frase é verdadeira
apenas em virtude do seu significado. Todas as frases
(mesmo as leis lógicas e matemáticas) são passíveis de
serem refutadas empiricamente. Como tal não existem
frases analíticas.

Ainda para Quine, as frases não têm significado (ou
seja, não têm “condições de verificacionalidade”
próprias). Não se relacionam directamente com as
coisas, mas são mediadas por uma rede de crenças.