Via da Verdade |
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sábado, junho 14, 2003
Ficha de Leitura de Philosophy of Language de W.Lycan Cap. 8 – Verificacionismo; Dois desafios de Quine à Filosofia da Linguagem dos Positivistas Introdução Segundo a Teoria Verificacionista, o significado de uma expressão é a sua condição de verificacionalidade, ou seja, o conjunto de experiências que demonstram que essa expressão é verdadeira. Uma frase não verificável pela experiência não tem sentido. Objecções à Teoria Verificacionista do significado: Duhem e Quine dizem que as frases, por si só, não têm "condições de verificacionalidade". Para Quine as frases não têm significado individual; não existe algo como o significado de uma frase. Ainda segundo Quine, não existem frases verdadeiras por definição, ou analíticas. A Teoria Verificacionista – A Teoria Verificacionista como motor do positivismo lógico Um slogan positivista diz que uma expressão linguística com significado deve influenciar alguma coisa em concreto. Se não compreendermos uma expressão, como poderemos afirmar que esta tem sentido? Os positivistas suspeitavam que muitas das obras dos “grande filósofos mortos” não tinham qualquer sentido e, muito menos, eram verdadeiras. Uma frase era tida como “com sentido” apenas quando havia a possibilidade de, através da experiência, se demonstrar que essa frase era verdadeira. Os positivistas chamavam a esta condição, “condição de verificacionalidade”. Ou seja, a Teoria Verificacionista identifica cada significado de uma frase com a condição de verificacionalidade dessa frase. Uma frase que não passe a prova de fogo da experiência, mesmo que gramaticalmente correcta, é “sem sentido”. Ainda segundo os positivistas, as frases analíticas são, por definição, verdadeiras. Ou seja, não necessitam de verificação empírica para terem significado. O seu valor de verdade é garantido pelo conjunto dos significados das palavras que as compõem. Assim são as frases analíticas. - Algumas objecções à Teoria Verificacionista Segundo Wittgenstein, a Teoria Verificacionista era apenas mais uma tentativa de se atingir a essência da linguagem, além disso, esta teoria aplica-se apenas à linguagem descritiva dos factos, que é apenas um dos vários tipos de linguagens - fazer perguntas, dizer poesia, dar ordens, entre outras. É difícil perceber como é que a Teoria Verificacionista poderá lidar com todos estes usos de linguagem. Uma resposta possível seria a de que os positivistas se interessam apenas pelo sentido cognitivo da linguagem. Mas neste caso o significado linguístico fica sem uma teoria geral. Na esteira de Duhem, Quine diz-nos que as frases, por si só, não têm “condições de verificacionalidade.” Esta só surge face a uma teia de crenças prévias. Ou seja, mesmo na nossa linguagem quotidiana, aquilo que pressupomos que seja uma clara “condição de verificacionalidade” de certa afirmação empírica, depende de uma grande teia de assunções auxiliares (contexto, crenças, aparelho sensitivo, ambiente, predisposições, etc.) Uma “condição de verificacionalidade” tem de confiar em todas estas assunções, e qualquer uma delas pode falhar. Como tal, as frases não têm “condições de verificacionalidade” intrínsecas. Dois desafios de Quine à Filosofia da Linguagem dos Positivistas – Recusa da distinção analítico/sintético Quine atacou a ideia de que algumas frases são verdadeiras apenas em virtude daquilo que significam e não devido a qualquer contribuição do mundo extralinguístico. Como os positivistas, Quine acredita que o significado linguístico tem de ter um suporte epistémico, uma âncora com a realidade, porém acredita que se o significado linguístico é alguma coisa é uma função desse suporte empírico. No entanto – e aqui surge a proposta holista de Quine, que o afasta dos positivistas – Quine afirma que o significado das frases não se sustenta nas próprias frases, mas num sistema holístico que é o suporte das nossas crenças. É neste complexo sistema de relações que se encontra o sentido de uma frase. Para Quine, as frases não se relacionam directamente com as coisas, mas relacionam-se entre si dentro desta complexa teia de crenças. Ainda segundo Quine, nenhuma crença ou frase e nem mesmo uma verdade lógica, é imune à revisão empírica (uma lei lógica básica, como a regra do 3º excluído, pode ser refutada por fenómenos quânticos). Uma frase analítica seria imune a esta revisão, logo não existem frases analíticas. Algumas consequências da negação das frases analíticas é a impossibilidade (a meu ver absurda) da existência de frases sinónimas. - A Tese da Indeterminação da Tradução Para além de não existirem frases analíticas, Quine diz agora que não existe “o significado”. As frases não têm significado por si próprias. Se uma frase tivesse significado, esse significado seria uma “condição de verificacionalidade”. Como tal, as frases não têm significado. – nota: aqui talvez seja aconselhável acentuar que as frases não têm significado por si só, mas apenas “ganham” esse significado num complexo sistema de crenças. Ou seja, as frases não têm sentido (meaningfull) mas podem fazer sentido (mean). É neste sentido que a “tese da inescrutabilidade da tradução” diz que uma tradução de uma língua para outra nunca pode ser perfeita, pois cada frase não significa por si própria, ou seja, não tem nenhuma “condição de verificacionalidade”, e cada língua tem “atrás de si” toda uma rede de conhecimentos, crenças, etc., impossível de reproduzir noutra língua. Porém se assim não fosse, se uma frase tivesse significado por si só, uma tradução perfeita seria possível, uma que conservasse o sentido real da frase. Como tal, diz-nos Quine, as frases não têm significado. – nota: vimos que para Quine não existe algo como "o significado" das frases porque para haver esse significado as frases teriam que se reportar a algum acontecimento concreto no mundo extralinguístico (isto segundo a Teoria Verificacionista, que Quine parece, neste ponto essencial, aceitar). Isso, porém, não acontece, pois as palavras e as frases vão buscar o seu significado a um conjunto de crenças, a um sistema holístico. No entanto resta a dúvida de porque é que Quine não deixou cair o requisito verificacionista de uma “condição de verificacionalidade” para a concessão de significado. Resumo A Teoria Verificacionista diz que uma frase para ter significado tem que ser verdadeira, ou seja, tem que ser verificável empiricamente. Duhem e Quine argumentaram que as frase não têm “condições de verificacionalidade” próprias. Quine vai mais longe e afirma que nenhuma frase é verdadeira apenas em virtude do seu significado. Todas as frases (mesmo as leis lógicas e matemáticas) são passíveis de serem refutadas empiricamente. Como tal não existem frases analíticas. Ainda para Quine, as frases não têm significado (ou seja, não têm “condições de verificacionalidade” próprias). Não se relacionam directamente com as coisas, mas são mediadas por uma rede de crenças.
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