Via da Verdade

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segunda-feira, dezembro 08, 2003
 
À volta do artigo OUT OF THE MATRIX" - COMO DAVIDSON MOSTROU QUE A REALIDADE NÃO PODE SER ILUSÃO de Richard Rorty

De certeza que toda a gente que ler este post já viu o(s) filme(s) “The Matrix”. De certeza, também, que depois desse filme nunca mais ninguém se arriscou a garantir com toda a certeza que o mundo “lá fora” não é um constructo virtual impingido às nossas mentes por um grupo de máquinas, ou outros entes malévolos quaisquer.

Esta hipótese foi levantada pela primeira vez por Descartes no século XVII (a hipótese do génio maligno que nos engana acerca de todas as nossas crenças) e só terá sido refutada no século XX, primeiro por Wittgenstein e depois por Davidson. Terá sido mesmo refutada?

Para superarmos esta hipótese Davidson e Wittgenstein dizem-nos que temos de “parar de pensar a linguagem como uma tentativa de comunicar o conteúdo de experiências não-linguísticas. Deveríamos, eles argumentaram, parar de pensar as nossas mentes como teatros internos. Em vez disso, deveríamos pensar a posse de uma mente – a característica que distingue humanos de seres brutos – como a capacidade de usar a linguagem no sentido de coordenar as nossas acções em relação às de outras pessoas. Não precisamos de nos preocupar com a adequação da nossa linguagem em descrever a realidade, pois as linguagens humanas são como são, contém as palavras que contém, porque têm sido afinadas por meio da interacção com o universo não-humano.”

Ou seja, as palavras têm o significado que têm porque surgiram de uma interacção entre os seres humanos e o mundo exterior. Assim, a existência de uma linguagem é prova da existência de um mundo exterior, pois só este possibilita a existência de uma linguagem. A ideia de um cérebro que imagina um mundo exterior quando na verdade nada mais existe para além dele (o argumento do solipsismo) cai por terra. Esse cérebro solitário, segundo a concepção social da linguagem de Davidson e Wittgenstein, nunca teria uma linguagem, nunca formaria conceitos, nunca teria pensamentos.

Com este argumento da “linguagem social” Davidson e Wittgenstein arrumaram de vez o argumento do solipsismo, mas será que arrumaram de vez argumento base do filme Matrix? Neste filme, a realidade exterior não era negada. O que havia era o download para as mentes humanas de uma realidade virtual construída pelas máquinas que se rebelaram. E o argumento da “linguagem social” de Davidson e Wittgenstein não consegue negar este cenário de ficção cientifica. Nunca teremos a certeza se os nossos cérebros não estarão a ser controlados por um génio maligno ou por uma sociedade de máquinas sinistras. Não é que isso me vá tirar o sono, mas a verdade é que nunca teremos essa certeza.

O artigo de Rorty aqui.