Via da Verdade

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segunda-feira, maio 24, 2004
 
Aquém e Além do Cérebro*

1ª sessão. Metodologias Mente-Cérebro: problemas e avanços.

Se a neuroimagem é a resposta, qual é a pergunta? - Stephen Kosslyn*

Nas suas investigações, o Professor Kosslyn, docente de psicologia na Universidade de Harvard, tem procurado clarificar a ligação entre os eventos mentais e a experiência, dedicando-se sobretudo à cognição visual. Mais concretamente procurando compreender a forma como se deve aplicar a metodologia moderna, como as técnicas de neuroimagem, à compreensão do cérebro.

Segundo Stephen Kosslyn, a complexidade do cérebro humano obriga a uma abordagem programática, mais própria das ciências empíricas que, por exemplo, da filosofia. Existem demasiadas áreas cerebrais envolvidas no processamento de informação: memória espacial, memória dos objectos, memórias associadas, etc. Para tirarmos o melhor proveito das técnicas de neuroimagem devemos dirigir os nossos inquéritos para perguntas concretas sobre as áreas e funções específicas. Quais são, então, essas perguntas?

Kosslyn apresenta dois grandes grupos de perguntas que devem orientar as nossas investigações:

1 - Como é que é implementado no cérebro o processamento de informação? ;
2 - Quando é que os processos e as estruturas específicas são utilizados no processamento de informação?

1 - Quanto ao primeiro grupo importa saber:

1.1 - Que áreas implementam sistemas com funções específicas?

Kosslyn fala de conexões recíprocas no sistema neural, em que uma área dá e recebe informação de outras áreas. Para sustentar esta hipótese Kosslyn refere algumas experiências efectuadas em primatas a quem foram removidas áreas específicas do cérebro (memória espacial, memória dos objecots, visão espacial, visão dos objectos) que levam à conclusão de que já existem dados no cérebro que precedem o processamento de informação. Casos de reconhecimento sem identificação (ou seja, em que existe reconhecimento físico mas não consciente) indicam que o processamento (físico) das propriedades do objecto teve lugar, mas não a activação das memórias associadas. O processamento de informação associa as áreas das propriedades dos objectos às áreas das propriedades espaciais e às memórias associativas. No caso de uma visão não canónica de um objecto (um ponto de vista estranho, por exemplo), o processamento de informação pode inverter o seu sentido (das memórias associativas às propriedades espaciais, às propriedades dos objectos), por forma a conseguir um correcto processamento da informação.

1.2 - Que áreas implementam sistemas simples?

1.3 - Que operação específica corresponde a uma área cerebral específica?
É, por exemplo, possível estimular a percepção de uma cor onde não há cor nenhuma.

1.4 - Que propriedades de estruturas subjazem a uma capacidade particular?

1.5 - Podem múltiplos processos estar na base de uma capacidade em particular?
Segundo o Professor Kosslyn, sim.


2 - Quanto ao segundo grupo, Kosslyn quer investigar:

2.1 - O modo como é inferido um processo pela presença de activação (body-engaged).

2.2 - A variação de activação necessária para prever uma acção.

Segundo Kosslyn, prever determinada tarefa ajuda a activar uma determinada área.

2.3 - Como é que o processamento varia com a prática?

2.4 - Como é que o processamento varia com o contexto?
Está provado que o contexto de uma acção influencia o seu processamento. Kosslyn dá o exemplo de casos em que uma tarefa mecânica torna-se mais difícil que uma tarefa manual conceptualmente semelhante.

2.5 - Como é que o processamento depende de processamentos anteriores?


Conclusão: Para tirarmos o melhor proveito das técnicas de neuroimagem no estudo do cérebro temos de dirigir as nossas investigações para perguntas concretas sobre áreas e funções específicas. Perguntas que dirijam os nossos olhares para tarefas específicas, fazendo desse modo a ligação necessária entre a neuroimagem e os estudo comportamentais.

* notas sobre o 5º Simpósio Aquém e Além do Cérebro, realizado de 31 de Março a 3 de Abril de 2004 pela Fundação Bial.

* entrevista de Stephen Kosslyn ao jornal Público