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segunda-feira, maio 10, 2004
Aquém e Além do Cérebro* What is next for philosophy - Patricia Churchland Patricia Churchland, Professora de Filosofia (Neurociência, Mente e Ciência) na Universidade da Califórnia, veio ao Porto falar das implicações éticas do progresso das neurociências: o problema do livre arbítrio, da livre escolha e da responsabilidade. Segundo P.Churchland os dados científicos mais recentes descrevem os cérebros humanos como máquinas causais. Ou seja, que passam de um estado a outro motivados por razões antecedentes. Como é que esta evidência influencia as nossas considerações acerca do livre arbítrio, da livre escolha e da responsabilidade dos seres humanos? Em face dos dados científicos que indicam que as nossas decisões e escolhas fazem parte de um processo causal (sinais sensoriais; memória e capacidade de aprendizagem; sistema de recompensas ? desejos; estados comportamentais, etc.), revelando a existência de uma preparação não consciente do agenciamento, como encarar o argumento que diz que para a nossa acção ser livre tem de ser não causada? Segundo este argumento, se todo o agenciamento mental é causado não somos livres, ou seja, nunca estamos em controlo dos nossos actos. Em primeiro lugar é preciso saber o que é que entendemos por ?livre escolha?. Segundo P.Churchland, para que uma escolha seja livre não é necessário que não seja causada. Churchland não duvida que tudo o que fazemos ?vem de dentro?, tendo surgido no nosso cérebro por evolução através do método de recompensa/castigo. No entanto é contra qualquer tentativa de explicação metafísica para o problema do livre arbítrio e da responsabilidade. A resposta deve ser pragmática. A verdade (demonstrada cientificamente) é que o cérebro parece criar a ilusão de estar em controlo, como por exemplo, no caso de pacientes estimulados por via cortical sem consciência de que o seu ?livre arbítrio? está a ser manipulado. Em última análise, diz-nos P.Churchland, as nossas razões são representações de Estados Cerebrais e todas as regras e normas que seguimos saem do cérebro, são instanciações de funções cerebrais. No entanto, os nossos comportamentos apesar de causados não são previsíveis. A possibilidade de se prever um comportamento pela análise de um determinado estado causal é irrisória, simplesmente porque as variáveis são imensas. Assim, para P.Churchland, temos livre arbítrio porque no nível de consciência em que nos encontramos temos controlo sobre as nossas acções. O que aqui importa analisar é aquilo que muda de um cérebro que tem o controlo sobre as suas acções para um que não tem esse controlo. Como definir estar em controlo? Para estar em controlo um cérebro tem de estar em estado de predição.Um cérebro está tanto mais em controlo quanto maior for a sua capacidade de realizar vaticínios a longo prazo. Considera-se que uma pessoa não está em controlo quando sofre de alguma doença do foro psicológico, como epilepsia, síndrome de Tourette, desordem maníaco-depressiva, mutações genéticas associadas a abusos na infância, etc. No entanto, avança P.Churchland, os conceitos que usamos actualmente podem ainda não estar à altura da explicação que procuramos. Para que a psicologia seja capaz de responder às questões fundamentais sobre a natureza do ?estar em controlo?, é necessária uma revolução conceptual, em micro e macro escala, que forje os conceitos necessários. Conforme sugerem os estudos de António Damásio acerca do raciocínio, do agenciamento, da sabedoria e da consciência, existe uma explicação neural (física, portanto) para a natureza do ?estar? ou ?não estar? em controlo: situações neuro-químicas (ver capítulos 6, 7 e 8 de O Sentimento de Si de António Damásio); a importância do córtex frontal; a recente evolução da consciência neural através de mecanismos de recompensa castigo, etc. Este é, segundo A. Damásio, um processo dinâmico e cujas fronteiras são extremamente difusas difusas. É aqui que P. Churchland coloca o seu desafio à filosofia que deverá trabalhar com a neurociência com o intuito de criar condições aos seres humanos para que estes mantenham e desenvolvam a sua capacidade de auto-controle. * notas sobre o 5º Simpósio Aquém e Além do Cérebro, realizado de 31 de Março a 3 de Abril de 2004 pela Fundação Bial.
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