Via da Verdade

Blog Português de Filosofia & Literatura mail: tiomas@yahoo.com

This page is powered by Blogger. Isn't yours?
quinta-feira, maio 06, 2004
 
Diálogos entre um neurobiólogo e um filósofo III

O espírito ou a matéria?


Jean-Pierre Changeux - Tanto a inspiração do poeta como a do cientista, ousaria mesmo dizer do filósofo, deve ser procurada no seu funcionamento cerebral, que inclui a experiência que tem do mundo, o saber que a humanidade adquiriu ao longo de milénios de história e a sabedoria dos homens de pensamento que viveram no nosso planeta. (...) Não há nada de inefável no trabalho criador do artista.

Paul Ricouer - É legítimo afirmar, a título programático, que a conexidade neuronal será um dia capaz de cobrir os comportamentos estruturados pela linguagem, pelos símbolos, pelas normas. (...) Mas nesse caso, que provaremos? Que uma actividade cerebral está subjacente a todos os fenómenos mentais? Mas essa é a hipótese de trabalho das ciências neuronais! A crítica que faria de novo ao seu projecto científico é que ele federa todas as disciplinas anexas sob o estandarte da neurobiologia, sem ter em conta a variedade dos referentes respectivos destas ciências, nem a dos seus programas científicos, em vez de confiar à interdisciplinaridade o trabalho de colocar em sinergia estas ciências, que podem lutar, cada uma delas, pela hegemonia em relação aos outros membros da constelação. (...) Digo apenas o seguinte: ou a referência a este neural não é pertinente para a compreensão das operações consideradas, ou não conhecemos absolutamente nada deste neural.

Jean-Pierre Changeux - Não devemos confundir desconhecido com irreconhecível. Para mim nada é irreconhecível. (...) Talvez os progressos das ciências do cérebro sejam tais que suscitam o receio de uma hegemonia.

in O que nos faz pensar? Jean-Pierre Changeux e Paul Ricouer, ed 70