Via da Verdade

Blog Português de Filosofia & Literatura mail: tiomas@yahoo.com

This page is powered by Blogger. Isn't yours?
domingo, abril 17, 2005
 

O que é uma acção racional?

Em filosofia da mente a racionalidade é entendida como um requisito de coerência da identidade pessoal: ?sem racionalidade não há agente.?
Um agente é considerado racional quando as suas acções se encontram harmonizadas com as suas crenças, desejos e intenções. Ou seja, com as suas representações e com os seus objectivos. Um conjunto de decisões, crenças e desejos completamente incoerentes não alcançariam o estatuto de racionais. Não passariam de frases soltas. No entanto os padrões de racionalidade da tradição filosófica do sec. XX (que derivam da concepção de agente racional de Newman e Hempel) colocam a fasquia da racionalidade demasiado alta. A ideia que subjaz a esta concepção de agência racional é a de que esta consiste na optimização das escolhas facultadas pelo sistema de crenças e desejos do agente. De acordo com esta concepção de racionalidade um agente que não procure maximizar a utilidade esperada das suas acções não é um agente racional. Esta teoria da racionalidade parece não ter em consideração que os seres humanos são psicologicamente limitados. Os estudos de psicólogos como Tversky e Kahneman demonstram que por norma não somos logicamente perfeitos ou mesmo consistentes nas nossas escolhas ou preferências. A irrrealidade do modelo ideal de racionalidade conduziram a duas reacções teóricas. Por um lado o materialismo eliminativista, segundo o qual conceitos como intencionalidade e racionalidade são pré-cientificos e são descartados como pseudoteóricos. Por outro lado a negação da ideia que um agente racional deve ser perfeitamente racional. A ideia de racionalidade mínima (defendida também por Cherniak em ?A Companion to the Philosophy of Mind?, Guttenplan) advoga uma via intermédia entre a unidade e coerência perfeitas do mental (os modelos idealistas de racionalidade) e a desintegração caótica do agente (o materialismo eliminativista). Herbert Simon considerava que a um agente racional bastava satisfazer, e não maximizar, a sua utilidade esperada. Stich e Cherniak também avançam modelos de racionalidade que aceitam e incorporam fenómenos psicológicos imperfeitos ? procedimentos heurísticos, ?rápidos mas sujos?, desenvolvidos para lidar de forma pragmática com o meio ambiente em que se inserem. O facto de, por vezes, aplicarmos essas nossas ferramentas a usos diferentes daqueles para os quais foram desenvolvidos pode explicar muita da irrracionalidade que, de um ponto de vista fomal, afecta os nossos processos de raciocínio.