Via da Verdade

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quinta-feira, abril 21, 2005
 
Se não quiserem perder uma oportunidade única de conhecer o autor deste blog apareçam aqui:

FACULDADE DE LETRAS - UNIVERSIDADE DO PORTO

INSTITUTO DE FILOSOFIA UNIDADE I&D 502 (FCT)

Gabinete de Filosofia Moderna e Contemporânea

SEMINÁRIOS DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Tomás Magalhães Carneiro

Mind Language and Action Group

"Para acabar de vez com o cognitivismo"

22 de Abril de 2005, 14:30, Instituto de filosofia


ps - Todos os espectadores serão revistados por seguranças grandes, fortes e maus que não permitirão a entrada de pistolas, facas e tomates. As manifestações de desagrado, desacordo ou simples dúvida estão terminantemente proibidas.


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domingo, abril 17, 2005
 

O que é uma acção racional?

Em filosofia da mente a racionalidade é entendida como um requisito de coerência da identidade pessoal: ?sem racionalidade não há agente.?
Um agente é considerado racional quando as suas acções se encontram harmonizadas com as suas crenças, desejos e intenções. Ou seja, com as suas representações e com os seus objectivos. Um conjunto de decisões, crenças e desejos completamente incoerentes não alcançariam o estatuto de racionais. Não passariam de frases soltas. No entanto os padrões de racionalidade da tradição filosófica do sec. XX (que derivam da concepção de agente racional de Newman e Hempel) colocam a fasquia da racionalidade demasiado alta. A ideia que subjaz a esta concepção de agência racional é a de que esta consiste na optimização das escolhas facultadas pelo sistema de crenças e desejos do agente. De acordo com esta concepção de racionalidade um agente que não procure maximizar a utilidade esperada das suas acções não é um agente racional. Esta teoria da racionalidade parece não ter em consideração que os seres humanos são psicologicamente limitados. Os estudos de psicólogos como Tversky e Kahneman demonstram que por norma não somos logicamente perfeitos ou mesmo consistentes nas nossas escolhas ou preferências. A irrrealidade do modelo ideal de racionalidade conduziram a duas reacções teóricas. Por um lado o materialismo eliminativista, segundo o qual conceitos como intencionalidade e racionalidade são pré-cientificos e são descartados como pseudoteóricos. Por outro lado a negação da ideia que um agente racional deve ser perfeitamente racional. A ideia de racionalidade mínima (defendida também por Cherniak em ?A Companion to the Philosophy of Mind?, Guttenplan) advoga uma via intermédia entre a unidade e coerência perfeitas do mental (os modelos idealistas de racionalidade) e a desintegração caótica do agente (o materialismo eliminativista). Herbert Simon considerava que a um agente racional bastava satisfazer, e não maximizar, a sua utilidade esperada. Stich e Cherniak também avançam modelos de racionalidade que aceitam e incorporam fenómenos psicológicos imperfeitos ? procedimentos heurísticos, ?rápidos mas sujos?, desenvolvidos para lidar de forma pragmática com o meio ambiente em que se inserem. O facto de, por vezes, aplicarmos essas nossas ferramentas a usos diferentes daqueles para os quais foram desenvolvidos pode explicar muita da irrracionalidade que, de um ponto de vista fomal, afecta os nossos processos de raciocínio.




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Intencionalidade

O significado filosófico de intencionalidade é o de ?dirigido a algum objecto?, quer este seja físico ou abstracto, existente ou inexistente. Para algo ser intencional é necessário que seja acerca de alguma coisa?. Estados mentais como crenças, desejos e arrependimentos são acerca de algo, ou seja, são intencionais. Para Brentano a marca distintiva do mental seria esta intencionalidade em relação a qualquer tipo de objecto (abstracto, inexistente, físico?). Ou seja, os estados mentais são intencionais de um modo que um estado físico nunca pode ser. Um estado físico nunca pode ser dirigida para algo que não seja também um estado físico. Como é bem patente, a tese de Brentano implica um dualismo cartesiano que separa mental e físico. Dificilmente os psicólogos cognitivos aceitarão que as representações e computações mentais que advogam sejam algo mais que estados do cérebro. No entanto fica-lhes por explicar como é que estados puramente físicos podem ter propriedades intencionais. A posição behaviorista e eliminativista passa por cima deste problema negando simplesmente que as pessoas tenham aquilo a que se chama estados intencionais. Actualmente a generalidade dos teóricos das ciências cognitivas acreditam que os estados intencionais do agente, assim como as suas atitudes proposicionais, são inerentes a estados do cérebro. A intencionalidade é considerada uma representação mental com propriedades semânticas. Essas representações são conceitos que implicam tanto uma interacção com outras representações internas (crenças, desejos, etc.) como com estados do mundo externo. São ?acerca de? algo pois referem-se ou designam algo.
Para Fodor e Sellars estes ?estados intencionais são simplesmente estados físicos com propriedades semânticas? cujos objectos são apenas os conteúdos representacionais. O problema desta posição está em saber como é que é possível (e se é possível) determinar o conteúdo semântico de algo físico. A psicosemântica de Fodor procura resolver esta questão.
Uma importante crítica a este modelo internalista vem de Hilary Putnam que com a sua experiência mental da ?Terra Gémea? procura demonstrar que as atitudes proposicionais de um agente não são determinadas apenas pelos seus estados internos: ?dois seres humanos podem ser idênticos molécula por molécula e mesmo assim apresentarem crenças e desejos diferentes?, pois essas atitudes proposicionais dependem de vários factores no seu contexto histórico e temporal. Segundo Putnam alguém na Terra Gémea poderia pensar estar a referir-se a água (H2O) quando na verdade não existia lá água nenhuma, mas uma coisa muito parecida (XYZ).
Assim, será necessário distinguirmos conteúdo alargado ? os conteúdos representacionais ? de conteúdo estrito ? aqueles determinados pelo conteúdo físico do agente.



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terça-feira, abril 05, 2005
 


Desejo

Os desejos parecem ser tanto uma fonte como um entrave à acção racional. Ao agir porque desejamos fazer algo estamos a expressar a individualidade que nos caracteriza enquanto seres humanos, mas esses mesmos desejos parecem por vezes entrar em conflito com aquilo que é racionalmente esperado de um agente moral. A discussão filosófica acerca dos desejos divide-se entre os que consideram que os desejos constituem a génese da acção e mesmo da acção moral (Spinoza, por exemplo, defendeu que consideramos bom aquilo que queremos), e os que procuram estabelecer um princípio da acção independente dos desejos (para Kant este princípio autónomo era a Vontade). Um dos objectivos da actual filosofia da mente é procurar compreender o papel que os estados mentais exercem no comportamentos humano, e no âmbito desta investigação o interesse pelo conteúdo semântico e intencional dos estados mentais como os desejos foi reavivado.
Agir racionalmente é agir intencionalmente e de acordo com os conteúdos das crenças e desejos que um agente possui. Mas o que é que é para um desejo ser acerca de alguma coisa? Um desejo é um estado com conteúdo cognitivo que determina qual o seu objecto? A sugestão behaviorista é que os estados mentais são disposições para nos comportarmos de determinada maneira, no entanto, o que os behavioristas erradamente ignoram é que são necessários outros estados interiores ao sujeito para que algo se qualifique como um desejo, nomeadamente a crença de que a acção desejada terá a consequência pretendida. O comportamento racional exige uma coordenação entre crenças e desejos.
Porém, para defendermos a posição de que desejos são razões para agir temos de reconhecer a existência de factores que determinam o objecto dos desejos, independentemente das crenças, pois ?um desejo não é uma mera disposição para agir, é uma razão para agir.? Aqui coloca-se o problema do conteúdo representacional dos desejos. Se negarmos, como Hume fez, que os desejos tenham conteúdo representacional, somos levados a identificar o objecto do desejo com o estado que conduz ao comportamento que satisfará esse desejo. Segundo esta posição um desejo não depende necessariamente de uma crença. O exemplo de que temos sono e que queremos dormir independentemente de acreditarmos que o sono é benéfico para a saúde, parece ser um bom argumento a favor de uma certa modularidade na geração dos desejos.
Uma analogia entre desejos e estados perceptivos identificaria a origem dos desejos num qualquer estado corporal ? um estado de privação ou necessidade. E identificando estas causas biológicas dos desejos encontramos o seu conteúdo semântico independente do conteúdo das crenças.


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